quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Violência simbólica

O tema “violência” é realmente um assunto que permite uma grande variedade de possibilidades e de opiniões. Segundo o dicionário Aurélio, violência significa constrangimento físico ou moral, uso da força, coação. Desse modo, quando pensamos em violência, imediatamente pensamos em agressão física, em xingamentos ou insultos a um (a) terceiro (a) de maneira direta. Entretanto, creio que ainda hoje pouco se discute uma forma de violência que sofremos todos os dias, que é velada, camuflada nas relações sociais, pois se disfarça através do silêncio: a violência simbólica institucionalizada. Este termo, amplamente discutido na academia brasileira, ainda não faz parte da linguagem e nem do entendimento de toda população. Nós, estudantes de Ciências Sociais, entendemos como violência simbólica institucionalizada aquela praticada cotidianamente, geralmente de forma implícita, pelas classes dominantes, cuja conseqüência é a crescente e contínua marginalidade de populações carentes e sem acesso aos serviços básicos constitucionais. Dizemos que esta violência é simbólica por que se funda na fabricação de crenças no processo de socialização, que induzem o individuo a se posicionar no espaço social seguindo critérios e padrões do discurso dominante. Quando estes padrões viram regras de conduta social, invadem não somente a consciência coletiva de uma sociedade, mas se legitima a partir dos aparados legais de repressão, dizemos que esta violência é não somente simbólica como também institucional. Para ilustrar, podemos facilmente imaginar a situação em que um (a) jovem negro (a), que não corresponde a um “padrão estético” de determinado lugar (um shopping, por exemplo) é coagido através dos diversos olhares lançados sobre ele, e, consequentemente, é interpelado por um policial ou um segurança (aparato legal), passando por um constrangimento o qual não será jamais reparado. Neste caso, podemos dizer que se trata de um tipo de violência simbólica institucionalizada. Não percebemos esta prática a maioria das vezes. Passamos quase totalmente sem notar o quanto somos agredidos cotidianamente em nossas vidas porque, simplesmente, às vezes penso, que a “colonização deu certo”. A população pobre, negra, nordestina, feminina continua marginalizada, e a grande maioria das políticas públicas adotadas no Brasil são criadas para velar ainda mais este sistema perverso de exclusão social, econômica, cultural e política no país. Penso que este é um tipo de violência que precisa ser combatida todos os dias. Começando por nós mesmos! Somos treinados desde pequenos a nos enquadrar, e a enquadrar os outros: “não gosto de gordo”, “não gosto de preto”, “não gosto de viado”, “em mulher tem que meter o pau”, “gente negra é mais feia”, não gosto do meu cabelo duro”, “era mendigo e índio, porque não botar fogo?”, “esse neguinho marginal tem que tá é na cadeia mesmo, apodrecer lá”, “tinha que ter pena de morte para esse moleques favelados que roubaram meu carro” e etc, etc. Porém, continuo otimista! Acredito que as coisas podem melhorar. Este tipo de reunião que vocês fazem, “conversando fiado ou afiado” sobre esses temas, já é um sinal disso. Mas, não pode parar por aí. Essa discussão tem que sair da academia e dos âmbitos intelectuais. Precisamos acreditar que somos dia-a-dia violentados por esse sistema perverso e excludente. Só assim, poderemos um dia, quem sabe, como propunha Stuart Hall, “deslocar as posições de poder e democratizá-las”. (Mayana Rocha Soares)

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